Na rua Álvares Cabral, no bairro Parque Residencial Laranjeiras, ES, a rotina dos vizinhos foi interrompida por sons que não vinham de buzinas ou obras públicas. Eram marteladas, risos, orações e cantos de esperança. Ali, cerca de 300 voluntários da Igreja Adventista do centro-norte capixaba se revezaram, dia após dia, para erguer algo maior que uma construção de alvenaria: uma nova vida para Alessandra Rosa, seu esposo e três filhos. A entrega oficial aconteceu na manhã deste sábado (27).

Do barraco improvisado ao lar digno

Até poucas semanas atrás, Alessandra vivia em um cômodo improvisado, com paredes frágeis e calor sufocante sob telhas de amianto. “Era inabitável”, resume o pastor Tiago Pilar, coordenador do projeto e líder da Igreja Adventista em Laranjeiras, responsável pela ação. “Um espaço feito para ser provisório acabou se tornando moradia de uma família inteira. Quando vi aquela realidade, prometi que Deus nos usaria para transformá-la.”

A promessa ganhou corpo na Missão Calebe, projeto realizado em toda a América do Sul que mobiliza jovens adventistas durante as férias para ações sociais. Só na região Centro-Norte do Espírito Santo, cerca de 11 mil pessoas participaram da iniciativa. Desta vez, o desafio foi além das visitas, doações de roupas ou atividades com crianças. O objetivo era ousado: erguer uma casa inteira do zero.

“O papel da Igreja Adventista é impactar e transformar vidas em todas as dimensões: espiritual, social e até econômica. Os 11 mil Calebes que atuaram no Centro-Norte capixaba neste ano tinham esse propósito — devolver dignidade às famílias e ajudá-las a se aproximar mais de Deus”, destacou Gustavo de Sá, presidente da Igreja Adventista para a região centro-norte capixaba.

Uma igreja em movimento

Mutirões foram organizados, materiais chegaram em forma de doações e as mãos se multiplicaram em paredes, pinturas, acabamentos. Quem não podia carregar tijolo levava comida, orava ou ajudava a mobilizar recursos. “De 70% a 80% da obra foi feita em mutirão”, explica o organizador da ação Tiago Pillar.

Paulo Martins, que ajudou a gerenciar a obra, conta que cada tijolo assentado era um gesto coletivo. “A gente se colocava no lugar da família. Cada detalhe era feito como se fosse para a nossa própria casa.”

Emoção na entrega

Agora, no lugar do barraco, há uma residência com três quartos, sala, cozinha, banheiro e uma fachada simples, mas acolhedora. O espaço foi totalmente mobiliado. Ao receber as chaves, Alessandra não conteve as lágrimas:

“Meu sentimento é de eterna gratidão. Representa uma vida nova, sabe? Uma vida digna, uma vida decente. É a mão de Deus sobre nós, que pegou o nosso sonho e transformou em algo muito melhor, porque nem nos meus melhores sonhos eu imaginava uma casa assim. Deus foi perfeito, maravilhoso mesmo. É vida nova, e com Jesus.”, expressa emocionada.

Mais que tijolos

Para os voluntários, a obra foi também um presente para si mesmos. “Mais feliz é aquele que dá do que aquele que recebe”, resume Ivoney Thomaz, que ajudou a gerenciar a construção. “Poder ver essa família entrando em uma casa digna é uma alegria indescritível.”

Francieli Moreira, que ajudou com móveis e recursos, define em uma palavra: dever. “Amar é atitude. E a Alessandra merece. Minha oração é que este novo lar seja ainda mais feliz.”

A fé que se torna concreta

Na Serra, a casa de Alessandra Rosa tornou-se símbolo de uma fé que não cabe apenas nos bancos da igreja. “A igreja não é templo, é movimento”, afirma o pastor Tiago. “E quando ela se une para dar dignidade a alguém, aí sim se torna verdadeiramente igreja.”

A entrega da casa aconteceu dentro de uma programação especial organizada pela Igreja Adventista na região, idealizada pela Rádio Adventista Mundial (Adventist World Radio) em parceria com a Rede Novo Tempo. Durante a semana, Vitória e Serra receberam o evento “Para o Mundo Ouvir”, que reuniu cerca de 60 locutores da Rádio Novo Tempo de todo o Brasil, além de administradores e pastores departamentais. Eles participaram de atividades evangelísticas em dezenas de igrejas locais.

O movimento contou também com a presença dos líderes da União Sudeste Brasileira (sede administrativa da igreja)— que abrange Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo — somando mais de 70 pregadores atuando ao lado de pastores locais e voluntários.